keywords: fascismo, autoritarismo, história, memória, política

description: Este artigo discute a dificuldade de lidar com a memória de um passado autoritário, através da análise do relacionamento de uma pessoa com seu fascista favorito. Abordaremos a importância de reconhecer os crimes cometidos pelo regime fascista e refletir sobre o impacto de suas ações na sociedade contemporânea.

Meu fascista favorito

Quando li essa frase, não pude deixar de sentir uma mistura de choque e curiosidade. Como alguém pode considerar um fascista como seu favorito? Como é possível admirar alguém que representou o oposto do que defendemos como valores, liberdade, e respeito aos direitos humanos?

Perguntei-me se essa pessoa era um fascista em si mesma ou se estava simplesmente celebrando aspectos isolados da cultura fascista. Mas essa reflexão me mostrou que meu julgamento rápido e superficial não ia ajudar a entender a questão.

Eu decidi ouvir essa pessoa e tentar entender o que estava em jogo aqui. Então, foi o que fiz. Eu comecei a ouvir sua história e suas experiências, e através dessas conversas, comecei a compreender sua perspectiva.

Enquanto eu lutava para entender como alguém poderia ser tão insensível aos horrores do passado, essa pessoa me explicou que tinha uma história familiar que a influenciou. A família dessa pessoa havia sido vendida à ideologia fascista, e seu avô havia sido um dos líderes do partido. Durante a infância dessa pessoa, sua família o celebrava como herói, acreditando que seus feitos representavam uma causa nobre.

Essa pessoa me explicou que, ao mesmo tempo em que ela se situava em outro lugar politicamente, ainda via seu avô como alguém que era admirável pelo que ele fazia em defesa dos interesses de seu país. Durante anos, ela contemplou os ideais antifascistas, mas agarrava-se ao “heroísmo” de sua família.

Para essa pessoa, a forma como a história era escrita não parecia completa. A cultura política que os cercava não ajudava, pois realçava o lado bom da cultura refletindo sua própria ideologia. Tudo o que aprendeu, foi distorcido pela mídia.

A busca da verdade

Em nossa tentativa contínua de avançar como sociedade, é crucial que estejamos dispostos a explorar e questionar nossa história e a forma como ela é apresentada. No Brasil, temos lidado com muitos desafios relacionados à produção e ao uso da história em nossas práticas políticas e pedagógicas.

É importante que possamos ter nas nossas salas de aula professores com formação adequada em História, Sociologia e outras áreas de Ciências Humanas; pessoas que não tenham medo de abordar temas como autoritarismo, fascismo e genocídio, mesmo que isso possa ser desafiador e confrontador.

Lutar contra a propaganda e o revisionismo histórico é uma tarefa laboriosa. Mas é essencial que nos comprometamos com a busca da verdade, sem a qual a nossa construção democrática é frágil.

Reconhecendo o passado autoritário

A memória coletiva é um fator chave em qualquer processo de reconciliação. É impossível caminhar em frente e avançar sem lidar com a herança do passado. Esse é o motivo pelo qual, mesmo após tanto tempo passado, os países que tiveram um passado autoritário ainda estão lidando com a questão.

O Brasil, como outros países, continua engajado em uma luta por reconhecimento e reconciliação. Nós estamos trabalhando para entender o que aconteceu durante as décadas de ditadura, e como isso afetou nossas vidas. Estávamos engajados em uma luta séria para corrigir a representação da história, e reconhecer suas vítimas e isso é uma obrigação nossa.

Através disso, começa a emergir o diálogo e a conscientização. Ainda há muito trabalho a ser feito, mas é significativo que as pessoas estejam dispostas a se abrir e a falar sobre suas experiências. Talvez se tivéssemos experimentado esse tipo de diálogo anos atrás, não estaríamos lutando tanto agora.

A pergunta que adentra nossas conversas diárias quando pensamos em contextos de família e amigos em que membros expressam suas ideologias, é: Como podemos ter empatia e abrir caminhos de diálogo, trazendo à tona nossos próprios valores de maneira assertiva?

Conclusão

Lidar com a memória de um passado autoritário é uma questão complexa. Em muitos casos, as pessoas lutam para entender como aceitar aspectos positivos de um regime fascista e, ao mesmo tempo, rejeitar sua ideologia. Ainda assim, é essencial que estejamos dispostos a confrontar nossa história e lidar com o legado do autoritarismo. O diálogo e o compromisso de ouvir e se educar são as primeiras ações necessárias. Sem esse diálogo, arriscamos ignorar o passado e com isso a perpetuação de ideologias prejudiciais.

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